terça-feira, 2 de novembro de 2010

Bonequinha de Luxo

Em um dia como esse, eu só queria ser igual a Holly e ter um lugarzinho especial no mundo em que me sentisse plenamente feliz e amparada. Sem ninguém perceber minha ausência, passaria algumas horas lá e, depois, renovada, voltaria à vida real. Seria a minha Tiffany.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Joãozito crocodilo

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranquilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

João Guimarães Rosa

domingo, 22 de agosto de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mais um para a coleção


Descendo a ladeira do corredor dos quadrinhos da livraria lotada, lá estava ele observando os passantes de canto. Com ar serelepe e os olhos esbugalhados. Num charme dado a poucos que a convenceu levar um exemplar para ver o que, afinal, esse tal de "Scott Pilgrim Contra o Mundo" tinha de tão especial para tamanho burburinho em seu redor na prateleira das novidades.

Uma, duas, três, quatro...cem páginas e ela não conseguia deixá-lo de lado nem só por um instante. Cada olhar blasé que se misturava a qualquer resposta atravessada levava a plateia, digo, a leitora, a gostar mais.

Não demorou muito e o Scott a ganhou completamente, assim como o Vincent, o Jack, a Coraline, o Max, o Snoopy, a Ponyo e a Mary. E ele foi parar, então, na estante mais vistosa dos personagens-fofuras que a gente vê por aí.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Globellu

E lá vai ela, com o coração apertado, desenrolar outro novelo. Torcendo para que, desta vez, a bola cheia de fios desengonçados seja mais macia e traga leveza, como os sonhos. Aqueles mesmos de Saramago, que as pessoas não escolhem, mas, sim, são escolhidas por eles. O desejo? Que sejam todos fresquinhos com sabor de goiabada.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Contando carneirinhos


Via-se que a cama era confortável e quentinha, tanto que só dela olhar para o móvel bocejava e os olhos se fechavam cansados. O som da televisão ao fundo, de um minuto para o outro trazia gritos histéricos da mocinha perdida e os risos constantes da platéia da sitcom. Ela usava um pijama emprestado e se sentia amparada em saber que passando pelo corredor escuro e cheio de retratos pessoas conversavam muito acordadas e alegres.

Não importava que a noite escura e quieta a amedrontava lá fora. Sendo assim, sem se preocupar com os fantasmas que rondavam o quarto quando o silêncio imperava, ela continuou a leitura: "viver é muito perigoso". Virou a página e encontrou algo que a deixou estarrecida. "Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!".

— Ai, eu aqui nesse lugar perdido que nem Deus dá conta! Credo em cruz, valei me. Disparou com a voz trêmula.

Nesse momento já não se ouvia mais o barulho da TV, muito menos os passos e burburinhos das pessoas despertas. Pronto, chegou o momento da famigerada briga com o senhor silêncio e os estalos que só as mais escuras das noites eram capazes de criar. Respirou fundo, fechou o livro, tirou os chinelos e mergulhou na cama.

Esperou dois minutos até se sentir segura para tirar o lençol do rosto. Aos pouquinhos, foi olhando ao redor e não gostou dos monstros que encontrou nas paredes, formados pelas sombras, fossem elas do guarda-roupas, do cabide (esse era o mais horrendo), da mesinha do computador ou da cortina.

Sem ter muita opção, lembrou da tática dos carneirinhos. E lá foi ela: um, dois, três, quinhentos, mil e trezentos, cinco mil oitocentos e dois...até escutar os passarinhos cantando e o mundo todo acordando. Chegou a hora de dormir, sem medo algum. Boa noite.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Disfarçando


Enquanto as palavras não me chegam, um trecho do ríspido e verdadeiro "A Obscena Senhora D", de Hilda Hilst.

"...Antes havia ilusões não havia? Morávamos nas ilusões. Ehud, e se eu costurasse máscaras de seda, ajustadas, elegantes, por exemplo, se eu estivesse serena sairia com a máscara da serenidade, leve, pequenas pinceladas, um meio sorriso, todos os que estivessem serenos usariam a mesma máscara, máscaras de ódio, de não disponibilidade, máscaras de luto, máscaras do não pacto, não seria preciso perguntar vai bem como vai etc., tudo estaria na cara..."

domingo, 3 de janeiro de 2010

Frustração


O avião preparava-se para pousar. Enquanto isso, lá bem do alto, arrodeava as nuvens que encobriam São Paulo. No assento da frente um garotinho afoito não parava quieto por um só instante. Grudado na janela observando a paisagem distante, de repente e com um espanhol encantador, ele demonstrou sua frustração, em bom som, ao avistar a cinza cidade:

― Mamãe, o Brasil não é tão bonito como nos sites.