sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Contando carneirinhos


Via-se que a cama era confortável e quentinha, tanto que só dela olhar para o móvel bocejava e os olhos se fechavam cansados. O som da televisão ao fundo, de um minuto para o outro trazia gritos histéricos da mocinha perdida e os risos constantes da platéia da sitcom. Ela usava um pijama emprestado e se sentia amparada em saber que passando pelo corredor escuro e cheio de retratos pessoas conversavam muito acordadas e alegres.

Não importava que a noite escura e quieta a amedrontava lá fora. Sendo assim, sem se preocupar com os fantasmas que rondavam o quarto quando o silêncio imperava, ela continuou a leitura: "viver é muito perigoso". Virou a página e encontrou algo que a deixou estarrecida. "Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!".

— Ai, eu aqui nesse lugar perdido que nem Deus dá conta! Credo em cruz, valei me. Disparou com a voz trêmula.

Nesse momento já não se ouvia mais o barulho da TV, muito menos os passos e burburinhos das pessoas despertas. Pronto, chegou o momento da famigerada briga com o senhor silêncio e os estalos que só as mais escuras das noites eram capazes de criar. Respirou fundo, fechou o livro, tirou os chinelos e mergulhou na cama.

Esperou dois minutos até se sentir segura para tirar o lençol do rosto. Aos pouquinhos, foi olhando ao redor e não gostou dos monstros que encontrou nas paredes, formados pelas sombras, fossem elas do guarda-roupas, do cabide (esse era o mais horrendo), da mesinha do computador ou da cortina.

Sem ter muita opção, lembrou da tática dos carneirinhos. E lá foi ela: um, dois, três, quinhentos, mil e trezentos, cinco mil oitocentos e dois...até escutar os passarinhos cantando e o mundo todo acordando. Chegou a hora de dormir, sem medo algum. Boa noite.