
Na segunda-feira me despedi do velho
Santiago e de toda sua força. Me despedi também de sua ingenuidade, de sua paciência, de sua compaixão e de sua fixação pelo baseball. Na verdade, não tivemos assim, uma despedida propriamente dita, pois "
O Velho e o Mar", de
Ernest Hemingway, é um daqueles livros que mesmo após sua última frase lida, fica martelando na cabeça.
O velho de "olhos queimados pelo sol, muito carinhosos e confiantes" me deixou intrigada, principalmente quando disse:
— É que sou um velho muito estranho.
De estranho Santiago não tem quase nada, a não ser o antigo hábito de falar sozinho. Também pudera, não deve ser fácil passar dias e noites acompanhado apenas pelo oceano e por seus animais.
Tanto que certa vez ele, com todo seu ceticismo, desejou se transformar em um daqueles
vertebrados aquáticos.
"O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais. Eu, por mim, gostaria muito mais de ser aquele peixe lá embaixo, na escuridão do mar."
Concentrado, sua única missão enquanto navegava era vencer aquele peixe imenso de barbatanas cor de violeta pálida.
"É um peixe enorme e tenho de dominá-lo. Não posso deixar que ele compreenda a força que possui...Tudo o que preciso fazer é conservar a cabeça lúcida..."
E depois de tantas páginas em sua companhia, concordei:
"
Não é bom que eu tenha ilusões."