segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Feios, sujos e malvados


Ontem, enquanto assistia ao capítulo natalino de "My Name is Earl", me senti como se estivesse revendo a qualquer cena de "Feios, Sujos e Malvados", um dos clássicos de Ettore Scola. Não sei se pela maldade quase ingênua de Joy (Jaime Pressly) e suas vizinhas ou se pela burrice cômica de Randy (Ethan Suplee). Talvez tenha sido a sujeira das ruas do pobre bairro, que, claro, com sua devida distância, me levaram aos barracos do filme italiano. Ou seria, apenas, pela esculhambação social? Não sei ao certo o que me fez lembrar a obra-prima de Scola, mas torço para que o Earl de Jason Lee demore para se livrar de sua lista cármica.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sorôco, sua mãe, sua filha


Se todo mundo é louco, ninguém é louco.


"A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga."

Essse é o finalzinho do conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", um dos meus preferidos do livro-encanto "Primeiras Estórias", de João Guimarães Rosa.

Pena que não encontrei links com esse texto completo, porém, achei outro igualmente belo: "A Terceira Margem do Rio."

sábado, 20 de dezembro de 2008

O Banheiro do Papa


O conceituado diretor de fotografia César Charlone, responsável por filmes como "Ensaio Sobre a Cegueira" e "Cidade de Deus", ambos de Fernando Meirelles, fez sua estréia na direção de "O Banheiro do Papa", em parceria com Enrique Fernández. O roteiro, também escrito pela dupla, é inspirado na passagem do papa João Paulo ll pela cidade uruguaia de Melo, em 1988.

O filme, porém, se foca em Beto (César Troncoso), sua compreensiva mulher Carmen (Virginia Méndez) e a filha Silvia (Virginia Ruiz). Ele é um contrabandista que, como tantos, atravessa diariamente a fronteira com o Brasil em cima de sua velha bicicleta para comprar e revender mercadorias. Quando são informados da passagem da Santidade pela pobre Melo, os moradores começam a hipotecar suas casas e pedir empréstimos, acreditando que lucrarão muito mais comercializando sanduíches e imagens de santos aos (esperados) milhares de peregrinos brasileiros que acompanharão o sumo pontífice.

Beto, um sonhador nato, quer fazer diferente dos vizinhos e tem a irreverente idéia de construir um banheiro na frente de sua casa para que os romeiros utilizem em troca de pagamento. O protagonista tem atitudes que podem dar pistas de um caratér duvidoso, entretanto, cativa o espectador com seus sonhos inesperados, demonstrando nada mais do que a perseverança de um homem em busca de dignidade.

Apesar do fundo triste desse desenrolar, o filme traz belas cenas, além de fazer crítica intrínseca à polícia aduaneira corrupta em meio a situações cômicas.

Assista ao trailer:



(Resenha feita para a revista SET)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O Velho e o Mar



Na segunda-feira me despedi do velho Santiago e de toda sua força. Me despedi também de sua ingenuidade, de sua paciência, de sua compaixão e de sua fixação pelo baseball. Na verdade, não tivemos assim, uma despedida propriamente dita, pois "O Velho e o Mar", de Ernest Hemingway, é um daqueles livros que mesmo após sua última frase lida, fica martelando na cabeça.

O velho de "olhos queimados pelo sol, muito carinhosos e confiantes" me deixou intrigada, principalmente quando disse:

— É que sou um velho muito estranho.

De estranho Santiago não tem quase nada, a não ser o antigo hábito de falar sozinho. Também pudera, não deve ser fácil passar dias e noites acompanhado apenas pelo oceano e por seus animais.

Tanto que certa vez ele, com todo seu ceticismo, desejou se transformar em um daqueles vertebrados aquáticos.

"O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais. Eu, por mim, gostaria muito mais de ser aquele peixe lá embaixo, na escuridão do mar."

Concentrado, sua única missão enquanto navegava era vencer aquele
peixe imenso de barbatanas cor de violeta pálida.

"É um peixe enorme e tenho de dominá-lo. Não posso deixar que ele compreenda a força que possui...Tudo o que preciso fazer é conservar a cabeça lúcida..."

E depois de tantas páginas em sua companhia, concordei:

"Não é bom que eu tenha ilusões."

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Os Lobos Dentro das Paredes



Para quem é chegado em literatura infanto-juvenil, fica aqui uma boa dica: "Os Lobos Dentro das Paredes", escrito por Neil Gaiman ("Sandman") e com ilustrações de Dave McKean.


"Lucy escutou ruídos. Os ruídos estavam vindo de dentro das paredes.

Eram ruídos apressados e ruídos alvoroçados.

Eram ruídos farfalhantes e ruídos crepitantes.

Eram ruídos furtivos, rastejantes e amarrotados."

O livro é daqueles que a gente começa e termina numa tacada só. É uma viagem por um universo fantástico com o humor inteligente e a delicadeza de Gaiman, além da beleza dos traços de McKean.

Meu próximo passo será "Coraline".

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Então é Natal?

Já que a cidade toda pulula luzinhas. Já que os shoppings e as ruas estão praticamente intransitáveis. Já que a canção do momento é “Jingle Bells”. Já que as cores são o verde e o vermelho, contornadas pelo tom dourado. Já que as cartas ao papai Noel foram todas devidamente enviadas e as árvores enfeitadas....acho que é tempo de Natal.

Sendo assim, deixo aqui este cartão feito pela designer Anna Cunha. E, abaixo, palavras tristes do poetinha Vinicius de Moraes.

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.



sábado, 13 de dezembro de 2008

Dexter



Dexter (Michael C. Hall) nunca foi uma criança normal e sabia disso. Ao invés de brincar de carrinho com os meninos da rua, ele gostava de coisas escusas. Na adolescência, sair com as meninas nem pensar. O que mais lhe interessava eram os casos de assassinatos. Quanto mais cruéis, melhor.

Seu pai adotivo era policial, talvez tenha vindo daí seu fascínio pelo crime. Quando precisou escolher uma profissão é claro que virou perito da polícia. E se perito já é alguém que se especializa em algo, ele foi além e, hoje, é um dos melhores, para não dizer o melhor, em desvendar qualquer mistério em Miami que envolva sangue. Acho que esqueci de mencionar algo sobre sangue, mas Dexter é apaixonado por esse líquido vermelho e viscoso. Sangue o hipnotiza. Dentro dele há apenas uma espécie de anomia, um vazio de sentimentos e sangue, claro.

Aliás, foi esse vazio de sentimentos que me cativou. Até agora não consigo entender sua frieza doce, mesclada com um incrível bom humor. E justo eu que não sou fã das séries investigativas, muito menos que envolvam "chuvas" de sangue. Acontece que Dexter é diferente.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Lemon Tree


Salma Zidane (Hiam Abbass) é uma mulher forte, decidida e que esconde sua beleza por trás de uma vida solitária e do trabalho árduo. Ela é palestina, viúva e acaba de comprar uma briga com seu mais novo vizinho: o ministro da Defesa de Israel, vivido por Doron Tavory.

Para sobreviver, Salma cultiva os limoeiros que seu pai deixou de herança, mas a Força de Segurança Israelense acredita que as árvores podem colocar em risco a vida do político.

Salma leva seu problema à Suprema Corte de Israel e luta até o final para manter cada limoeiro em pé. Sua força, entretanto, faz Mira Navon (Rona Lipaz-Michael), esposa do ministro, criar coragem para mudar os rumos de sua vida.

Eran Riklis ("A Noiva Síria") traz em "Lemon Tree" algo além das históricas guerras entre israelenses e palestinos. Com candura, uma bela trilha sonora e leves toques de humor, ele retrata a solidão de cada um, independentemente de religião e política.

O filme, que estreou em agosto de 2008, ainda está em cartaz no Reserva Cultural.

Assista ao trailer:




(Resenha feita para a revista SET)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Da minha nova paixão


Foi ele o criador de um dos menininhos mais adoráveis que "conheci". Seu primeiro curta-metragem de animação, Vincent, me despertou várias sensações e, a partir dali, virei mais fã ainda do trabalho de Tim Burton. Em um dia melancólico de julho até eu me aventurei em descrever, da forma que via, esse tal de Vincent.

Pois hoje fui conhecer a recém-inaugurada livraria Cultura, no shopping Bourbon, e após um giro pela loja me deparei com o livro "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias", do mesmo Burton que dirigiu "Edward Mãos de Tesoura", "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas" e "Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet."

Tá, eu sei que o livro é de 1997, mas não é tão fácil de encontrá-lo no Brasil. Bom, agora que achei, não largo mais.

Deixo aqui, de aperitivo ilustrado, a história "A rainha alfineteira":







A vida de uma rainha alfineteira
De fato não é nenhuma brincadeira.
Toda vez que se senta no trono,
Os alfinetes lhe causam um grande transtorno.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

As Pontes de Madison


Hoje, assim sem querer (o que é mais legal), liguei a televisão e estava passando "As Pontes de Madison". Me dei conta de como é bom rever um filme. Fiquei com a palavra candura na cabeça.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A sobremesa


Num sábado ensolarado e ao som da Banda de Pífanos de Caruaru, o sorvete de rapadura com calda de catuaba do restaurante Mocotó, uma ótima surpresa na zona norte, ficou ainda mais saboroso!

sábado, 29 de novembro de 2008

Bella


"Minha avó sempre dizia: se quiser que Deus dê risada, conte seus planos a Ele." A frase é de José, - personagem interpretado pelo galã, ator e cantor Eduardo Verástegui - na primeira cena de "Bella", quando começa a narrar sua história com ceticismo sobre a vida e seu desenrolar. José é chef de um restaurante tipicamente mexicano em Nova York. Antes, entretanto, foi craque de um grande time de futebol, mas teve a carreira interrompida no ápice do sucesso. Já Nina (Tammy Blanchard) tem a vida toda chacoalhada ao saber, quase simultaneamente, que está grávida, sozinha e acaba de ser demitida do emprego de garçonete.

Pronto, um prato cheio para o drama de duas pessoas que compartilham, durante um passeio pela cidade e seus arredores, anseios, frustrações, culpas e alguns clichês. Assim como um destino em comum, que vem para confirmar a impermanência de viver.

Com diálogos ora em inglês, ora em espanhol, "Bella" é o primeiro longa-metragem dirigido pelo mexicano Alejandro G. Monteverde, que estreou de cara vencendo o prêmio de melhor filme do júri popular do Festival de Toronto de 2006. Com traços leves de humor, a trama é narrada em fragmentos, onde lembranças do passado se confundem com fatos do presente, numa sucessão de belezas delicadas e densa dramaticidade.

Assista ao trailer aqui:



(Resenha feita para a revista SET)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O menor conto do mundo


"Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá"

"O dinossauro", do escritor guatemalteco Augusto Monterroso, é considerado o menor conto da literatura mundial. Conheci este e outras obras do autor quando fiz um curso de narrativas breves com o impagável Marcelino Freire .

Para ler mais coisas de Monterroso, venha que vale a pena.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

E viva o Rei!

Ontem a frase "e tudo termina em brega" me inspirou esse post.

Estava eu no último show dessa temporada do Del Rey aqui em São Paulo me divertindo com os sucessos de Roberto Carlos.
Os pernambucanos do Mombojó juntos do cantor China, um sujeito magrelo com uma dança desengonçada, conseguem abarrotar o Studio SP nas noites em que se apresentam.

Achei engraçado ver um bando de jovens, assim como eu, cantando coisas do tipo:

"...Que é ciúme, ciúme de você
Ciúme de você, ciúme de você..."

Provavelmente, muitas daquelas pessoas que pulavam e balançavam os braços ao som de "Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim", também estiveram nos shows do R.E.M, do U2 e são fãs de outras tantas bandas, mas cantavam em coro e, o mais importante, sem nenhuma vergonha "Emoções", um dos principais hits do rei. Vale a pena, principalmente poder observar a diversão alheia.

Para quem quiser ouvir, fica a dica: Del Rey - Se Você Pensa. E não tenha vergonha de ser "brega" de vez em quando.

À Beatriz


Demorei até (re)conhecer Beatriz. Já tinha ouvido falar da moça que despertava tantas dúvidas.

Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Numa noite de festa a conheci de verdade. Culpa da Georgia e sua mania de livres associações que me fizeram chorar. Era final de dezembro e me recordo que passei o ano-novo intrigada com a mulher que dançava no sétimo céu. Me perguntava como seria possível ser tão bela e, ao mesmo tempo, tão triste.

Não sei se a Beatriz que inspirou Chico Buarque e Edu Lobo existiu de carne e osso, mas, para mim, ela tem algo do que Marilyn Monroe foi. Não sei se pela beleza desconcertante, se pela sensualidade frágil ou pela tristeza que carregava no olhar. Até hoje fico encucada, tentando descobrir mais sobre essa menina. Vira e mexe me pergunto, cantando:

Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz

E foi em homenagem a ela que batizei esse espaço. Seja bem-vindo à Casa de Beatriz!