sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Estados Unidos de Tara

Estreou a série (aqui no Brasil, por enquanto, só baixando) “United States of Tara”, escrita por Diablo Cody, roteirista oscarizada por “Juno”, e produzida por sir. Steven Spielberg. A atriz Toni Collette vive a personagem principal, Tara (ou T ou Alice ou Buck), uma mulher dona de quatro personalidades.

A graça é essa: uma mulher poder ser quatro pessoas diferentes em questão de minutos. Claro que, em um primeiro momento, isso soa como absurdo. Também fiquei encucada no episódio piloto. Só que é aos poucos que Toni Collette, no papel de qualquer uma das quatro, vai mostrando ao que veio (ou ao que vieram todas elas, criadas pela ex-stripper Diablo Cody, à base de algumas tiradas e asperezas).

Tara é feliz com o marido Max (John Corbett) e com os dois filhos, Kate (Brie Larson) e Marshall (Keir Gilchrist). Aparentemente normal e desencanada, trabalha como pintora de murais para quarto de bebês, porém, às vezes, não se sente, digamos, “ela mesma”, já que minutos depois pode encarnar alguma de suas outras personalidades.

T é uma adolescente que faz o estilo sem vergonha, pinta as unhas de preto e usa roupas provocantes que pega do armário de Kate. Uma faceta mais comportada de Tara surge com a irritantemente perfeita dona-de-casa e exímia cozinheira Alice. No entanto, a família se constrange quando Tara faz o tipo caminhoneiro ao assumir a identidade de Buck, um homem chegado em bebidas, noitadas e porradas.

A música do Polyphonic Spree tornou a abertura de "United States of Tara", uma animação em estilo pop-art, ainda mais bonita.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Disgusting

Não sabia que sentia tanto asco, nem tanta repulsão por esse inseto pequeno da família dos Blactídeos, de antenas compridas e multiarticuladas, conhecido por barata. Isso foi até ler esse trecho (ao final) de "A Paixão Segundo G.H.", de Clarice Lispector. Aí sim, tudo aumentou.

Até a busca (preciso confessar) por uma foto para ilustrar o post foi difícil e, claro, muito nojenta, mas, finalmente, achei uma barata engraçadinha e que não me causasse aversão na hora de salvá-la. A figura é bem diferente daquela descrita por Clarice através de G.H., porém aqui o que vale é o texto abaixo:

"Só que ter descoberto súbita vida na nudez do quarto me assustara como se eu descobrisse que o quarto morto era na verdade potente. Tudo ali havia secado - mas restara uma barata. Uma barata tão velha que era imemorial. O que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais. Saber que elas já estavam na Terra, e iguais a hoje, antes mesmo que tivessem aparecido os primeiros dinossauros, saber que o primeiro homem surgido já as havia encontrado proliferadas e se arrastando vivas, saber que elas haviam testemunhado a formação das grandes jazidas de petróleo e carvão no mundo, e lá estavam durante o grande avanço e depois durante o grande recuo das geleiras - a resistência pacífica. Eu sabia que baratas resistiam a mais de um mês sem alimento ou água. E que até de madeira faziam substância nutritiva aproveitável. E que, mesmo depois de pisadas, descomprimiam-se lentamente e continuavam a andar. Mesmo congeladas, ao degelarem, prosseguiam na marcha... Há trezentos e cinqüenta milhões de anos elas se repetiam sem se transformarem. Quando o mundo era quase nu elas já o cobriam vagarosas."

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

By Jeff Tweedy

LAUGHS

the greatest songs
are never sung
but the grass
get cut
and spelled
in children´s hands
how the sun is yellow
but also cold and sutured
...blue

the best laughs
never leave your lungs
and the best life
is art
never made


O poema acima está no livro "Adult Head", de Jeff Tweedy, que além de poeta é compositor, vocalista e líder do Wilco. Para ser sincera, eu conheço Tweedy e sua banda há pouco menos de um ano, mas ela já é uma das minhas preferidas. Virou meu tesourinho, com direito a camiseta de fã e tudo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Quem Quer Ser um Milionário?


Um dos fortes concorrentes ao Oscar 2009, Slumdog Millionaire (ou em português "Quem Quer Ser um Milionário?") é um filme simples, produzido sem muita grana e com atores desconhecidos do grande público. Porém, o diretor inglês Danny Boyle ("Trainspotting") soube fazer dessa simplicidade o encanto do longa, sem cair em pieguices.

O drama é focado em Jamal Malik (Dev Patel), um garoto pobre indiano que, junto de seu irmão Salim, vive pelas ruas de Mumbai passando por todas as dificuldades que duas crianças "sozinhas no mundo" poderiam passar.

Jamal, mesmo sem saber, é cômico. Também é ingênuo, forte, de caráter incorruptível e é teimosamente defensor das coisas em que acredita, mas talvez disso ele saiba muito bem. E, talvez por isso, tenha chegado ao ápice: o famoso programa de televisão "Quem Quer Ser um Milionário?."

Com delicadeza, a história, baseada no livro "Sua Resposta Vale um Bilhão", de Vikas Swarup, se passa em flashes entre Mumbai e algumas outras cidades indianas, intercalando o passado e presente da vida de Jamal, fazendo disso, também, um breve suspense. E tudo acompanhado pela (linda) trilha sonora de A.R. Rahman. Muito mais legal (e real) do que a novela de Glória Perez.

Como o filme tem estreia prevista no Brasil somente para 6 de março, fica aqui o trailer:

domingo, 18 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

"Sua vida é definida pelas oportunidades, até mesmo aquelas que você perde"

Na curiosa vida de Benjamin Button o tempo do relógio corria ao contrário. Avançava de trás para frente, como se fosse rebobinada. Quando enrugado brincava de bonecos, afinal, nascera em um corpo velho e, com o passar dos anos, rejuvenescia. Tinha uma vida do avesso. Benjamin era inteligente, carinhoso e lúcido como poucos.

Boa parte de sua vida invertida fora marcada por perdas e, logo, as perdas viraram mortes e Benjamin partiu sozinho para a grande travessia. Pelo caminho, conheceu muitos lugares e pessoas que o marcaram também. Gostava de ouvir a história que o capitão Mike contava sobre os beija-flores e o infinito. Voltou para New Orleans, reencontrou seu grande amor, viveu indo e vindo.

De tanto retroceder sua vida chegou ao fim. E Benjamin, no corpo de um bebê, porém com as peculiaridades de um idoso, morreu. Virou eco.

O filme:
Roteirizado (livremente) por Eric Roth, a partir do conto de F. Scott Fitzgerald, "O Curioso Caso de Benjamin Button", de David Fincher ("Clube da Luta"), é uma linda fábula sobre um homem que nasce com as características de um homem velho e morre jovem, tal qual um bebê. Com Brad Pitt no papel de Benjamin e Cate Blanchett vivendo o grande amor do personagem principal, o filme, além dos efeitos visuais, da maquiagem e das interpretações, é também uma densa reflexão sobre duas coisas que, na verdade, caminham ao mesmo passo: a vida e a morte.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A Paixão Segundo G.H.


A POSSÍVEIS LEITORES

“Este livro é como um livro qualquer.
Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas
por pessoas de alma já formada.
Aquelas que sabem que a aproximação,
do que quer que seja, se faz gradualmente
e penosamente – atravessando inclusive
o oposto daquilo que se vai aproximar.
Aquelas pessoas que, só elas,
entenderão bem devagar que este livro
nada tira de ninguém.
A mim, por exemplo, o personagem G.H.
foi dando pouco a pouco uma alegria difícil;
mas chama-se alegria”


Abri o livro "A Paixão Segundo G. H." Virei uma, duas, três páginas. Na quarta paraliso ao ler o texto acima. A partir daí já fico vidrada. Não é à toa que Clarice Lispector é tida como musa .

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Noite


Certo dia, por ironia, ela leu em "Minha Razão de Viver", de Samuel Wainer, que "é à noite que se sabe das coisas." Nunca mais se esqueceu disso. E ponto e pronto, disse Clarice.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Coraline


Confesso que me tornei fã de Neil Gaiman há pouco tempo. Foi logo depois de ler "Os Lobos Dentro das Paredes" e a versão portuguesa de "O Dia em que Troquei o meu Pai por Dois Peixinhos Dourados" (ainda inédito no Brasil) . Dei mais um passo em direção à fantasia do escritor inglês e aos traços do ilustrador Dave McKean até chegar em "Coraline."

A cada página me sinto como se estivesse lá, com a entediada garotinha que pegou a fria chave e abriu a porta.

O dia estava ensolarado e frio, exatamente como aquele que Coraline deixara.
Um barulho sutil fez-se ouvir atrás dela.
Coraline virou-se. Em pé, sobre o muro próximo a ela, achava-se um gato grande e preto, idêntico ao gato grande e preto que vira no terreno de casa.
— Boa tarde — disse o gato.
Sua voz soava como a voz de dentro da cabeça de Coraline, a voz com a qual ela pensava as palavras; mas essa era uma voz de homem, não de menina.
— Olá — disse Coraline. — Eu vi um gato como você no jardim lá de casa. Você deve ser o outro gato.
O gato balançou a cabeça.
— Não — disse. — Não sou o outro coisa nenhuma. Sou eu. — Inclinou a cabeça para o lado; os olhos verdes brilhavam.
— Vocês, pessoas, se esparramam por toda parte. Nós, gatos, nos mantemos íntegros, se é que me entende.

Enquanto leio o final da história, espero a estreia de "Coraline" no cinema e, mais uma vez, confesso: estou curiosa para ver como ficou o novo trabalho de Henry Selick ("O Estranho Mundo de Jack").

domingo, 4 de janeiro de 2009

Do poeta Zé da Luz


Ai se sêsse

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse