Não sabia que sentia tanto asco, nem tanta repulsão por esse inseto pequeno da família dos Blactídeos, de antenas compridas e multiarticuladas, conhecido por barata. Isso foi até ler esse trecho (ao final) de "A Paixão Segundo G.H.", de Clarice Lispector. Aí sim, tudo aumentou.
Até a busca (preciso confessar) por uma foto para ilustrar o post foi difícil e, claro, muito nojenta, mas, finalmente, achei uma barata engraçadinha e que não me causasse aversão na hora de salvá-la. A figura é bem diferente daquela descrita por Clarice através de G.H., porém aqui o que vale é o texto abaixo:
"Só que ter descoberto súbita vida na nudez do quarto me assustara como se eu descobrisse que o quarto morto era na verdade potente. Tudo ali havia secado - mas restara uma barata. Uma barata tão velha que era imemorial. O que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais. Saber que elas já estavam na Terra, e iguais a hoje, antes mesmo que tivessem aparecido os primeiros dinossauros, saber que o primeiro homem surgido já as havia encontrado proliferadas e se arrastando vivas, saber que elas haviam testemunhado a formação das grandes jazidas de petróleo e carvão no mundo, e lá estavam durante o grande avanço e depois durante o grande recuo das geleiras - a resistência pacífica. Eu sabia que baratas resistiam a mais de um mês sem alimento ou água. E que até de madeira faziam substância nutritiva aproveitável. E que, mesmo depois de pisadas, descomprimiam-se lentamente e continuavam a andar. Mesmo congeladas, ao degelarem, prosseguiam na marcha... Há trezentos e cinqüenta milhões de anos elas se repetiam sem se transformarem. Quando o mundo era quase nu elas já o cobriam vagarosas."
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Um comentário:
Vi seu comentário no Blog da Cris Guerra, falando sobre baratas e vim conferir o que Clarisse Linspector disse no livro. Fiquei mega curiosa, e gostei. Tô querendo ler algo dela (nunca li, mas sempre ouvi falar muito bem!) Você me recomenda esse, de primeira leitura?
Beijos e desculpa invadir assim!
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